
Pois, se o
machismo levou a várias violações, tanto que hoje no Brasil foi instituído pela
Presidenta, a lei do Feminicídio, imagino que ante a ampliação de jornadas às
mulheres, elas além de serem filhas das violências mil ao longo da história da
humanidade, elas de “prisioneiras domiciliares”, agora também, estão “escravas”
ao mercado de trabalho, “prisioneiras em meio semi-aberto”. Em suma, são
punidas por serem vítimas e agora cumprem pena mais severa, e,por isso, não
sabemos que resultará deste contexto.
Sei que há séculos
crianças são, depois das mulheres, mais violadas no seio familiar; adolescentes
e jovens são mortos e ou abusados, com saldo contemporâneo de vítimas mais que
as duas grandes guerras. E, dos que sobrevivem, muitos acabam retroalimentando
o que aprenderam como meio socializador, em uma sociedade neocapitalista morrem
subjetivamente, em um individualismo narcisista hedônico insaciável. Sonham
alienações televisivas e se relacionam artificialmente nas redes assustados com
contato humano como em uma histeria coletiva, a caminho de uma sociedade “autística”,
mas em doentia auto exclusão.
Neste sentido,
não sei se ainda cabe “a
desconstrução da grande narrativa do homem branco, moderno e ocidental”(1), porque
penso criticamente que os movimentos ideológicos parecem ilhados, como se pudessem
ignorar que estamos falando de relações desigual de poder que está sim, baseado
na lógica hierárquica e, crer que apenas as mulheres são vítimas, parece um
reducionismo. Todas as ideologias são necessárias mais não como
“autisticamente” aleias à cada momento histórico.
Afianço a
necessidade da união de todos os excluídos em prol ao acesso a todos aos bens
conquistados socialmente e de maneira equânime, pois quando fechados a uma
causa excluímos outras.
Como, sou
ativista em Direitos Humanos, e milito em bandeiras como a da pessoa no
Espectro do Autismo, sinto que a unanimidade pode ser excludente. O espectro
abençoa com sintomas a todos sem distinção de raça, etnia, crença, gênero,
geração e renda.
Neste
sentido, precisamos pensar mobilizações de excluídos onde o discurso único
destes ressoe acesso a direitos não exclusivos e sim coletivos. Pois comungo de
uma ciência política crítica e historicamente que estuda a subjetividade em e
com a coletividade: “urge, portanto, que os psicólogos
sociais contribuam para a construção de identidades pessoais, coletivas e
históricas capazes de romper a situação de alienação das maiorias populares
oprimidas e desumanizadas que vivem à margem da sociedade dominante e,
consequentemente, levar à mudança social.”(2)
Assim portanto,
não se fala de saúde, por exemplo, sem o bem estar físico, mental e social, ao
qual incluo o espiritual. E isso não se concebe sem contextualizar“(...)Trata-se, assim, de desenvolver um
saber psicológico historicamente construído que se mostre capaz de compreender
e contribuir para sanar os problemas que atingem as maiorias populares e
oprimidas. Para ele (Martin-Baró, 1989), então, a construção teórica em
psicologia social deve emergir dos problemas e conflitos vivenciados pelo povo
latino-americano, de forma contextualizada com sua história”.(2)
Neste sentido
fica evidente que as mulheres que agora “prisioneiras em meio semi-aberto” do
sistema neoliberal, pouco terão, como os homens que foram apolíticos, meios de
efetivar ganhos reais socialmente, se continuarem alienadas aos supostos ganhos
capitalistas?
No caso das
mães de pessoas no espectro do autismo isso é tão evidentes que muitas que
conseguem vencer as amaras do preconceito transformados em armas a partir da
discriminação de ser mãe de alguém TEA, culpabalizam-se ante o Transtorno e seu
estigma; ficam perdidas nos sintomas do Espectro de tantas contradições e
negociatas farmacotécnicas de “a-profissionais” em suas éticas questionáveis;
pois, o Autismo, o pequeno traço que o filho possa ter, precariamente se
encaixa nos sintomas adestrados por uma medicina pouco preventiva, proibindo as
mães, de fato, acessarem um caminho terapêutico que inclua de fato, a pessoa do
filho.
Neste
sentido, as pessoas no espectro, tornam-se com alguns falam, o sintoma dos
dilemas sócio familiares dos discursos adultocentricos, antrocentricos,
eurocêntricos (...) enfim, de homens e mulheres esteticamente seguindo modelos
que não respeitosos as nossas reais características, hoje, americanizados, pois
nos tornamos, ideologicamente, colônia, quintal do país ianque. E nossa
medicina excludente provém dessa ideologia.
Nesse sentido
não se tem razão uma pessoa no espectro e sua família lutarem isoladas visto
que nessas pessoas fica nítida a dependência a suas mães, sobretudo, essas
sobrecarregadas não têm meios de lutar, seja pela demanda do TEA ou a diversas
jornadas. Especialmente porque muitas delas são as únicas provedoras e, pois,
muitas são abandonas por homens fracos em suas condições machistas.
Portanto, as vítimas que coletivamente
se levantem e se empoderem, ou seja, façam do conhecimento armas de poder
articulador de atos inclusivos de direitos a dignidade à pessoa no espectro e
qualidade de vida a todas os excluídos, que afinal, alcançando-se conquistas
beneficiaram a tod@s.
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1. João Manuel de Oliveira Centro de
Investigação e de Intervenção Social Lígia Amâncio Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa,
Teorias feministas e
representações sociais: desafios dos conhecimentos situados para a
para a psicologia social;
2. Psicologia: Teoria e Pesquisa 2010,
Vol. 26 n. especial, pp. 51-64. A Psicologia Social Contemporânea: Principais
Tendências e Perspectivas Nacionais e Internacionais Maria Cristina
Ferreira;Universidade Salgado de Oliveira