domingo, 26 de junho de 2016

Pessoa no Traço Autista e a Intolerância a frustrações


Escutando relatos e observando algumas crianças ou pessoas com necessidades expressas de maneiras diferentes de nós, tidos comuns, especialmente daqueles no traço do autismo, parece ter-me mostrado um vetor de canalização da intolerância a frustração ou ao adiamento da satisfação para comportamentos incomuns, estranhamente chamados estereotipias.
Pois considerando que “as estereótipos, (são) a formação de impressões e a percepção de pessoas” vistas por terceiros, enquanto, “Em contraste com os autoesquemas, que contêm as estruturas de conhecimento sobre o próprio indivíduo”, denuncia, então,  que para nós, os comportamentos das pessoas no traço autista é estranhamente vistos, para eles são as formas de adaptações a vida, que como a nós, a eles, foi-lhes dada. E assim, incomum ou estranhamente eles se inserem no social, onde não vejo, portanto, nada de anormal, muito menos adoecido, porque, sobretudo, é uma forma de buscar inserção e não evitação social. Nós é que não os entendemos, assim agimos como deficientes e construímos barreiras com nossos medos e frustrações.
E é na sociedade que “dependendo de sua motivação e habilidade, poderá corrigir essa impressão inicial, com base em informações mais individualizadas e que se mostrem congruentes ou incongruentes com seus estereótipos" (Quinn & cols., 2003). Mas, creio que a abertura para as esteriopias é como canal para suportar a necessidade na qual a frustação parece ativar ou ampliar. E então, não entendendo suas necessidades os barramos, ampliando a frustração.
Porém, por sua vez, estas necessidades podem nascer ou serem reforçadas socialmente, “Adolphs (2009) adverte que cognição social também é sensível ao contexto, o que faz com que a interface entre cérebro e cognição social seja modulada pelo contexto social e pelo autocontrole volitivo ( vontade)”. Quero, enfatizar então, o que dizem "os psicólogos sociais evolucionistas defendem que processos similares à evolução genética operam na transmissão da cultura”.
Então, “algumas dessas variantes culturais são mais prováveis de serem aprendidas e lembradas, em geral aquelas transmitidas por modelos mais proeminentes (pais, celebridades etc.)”.
Aqui, cabe-nos entender o que de fato se baseia este texto quanto a aprendizagem social através da
imitação: “Nesse sentido, a transmissão da cultura se dá por meio de processos de imitação e aprendizagem social, por meio dos quais ocorre a seleção natural dos valores a serem transmitidos à outra geração" (Mesoudi, 2009).
Talvez, não tenhamos percebido que nossas pessoas no traço autista imitam-nos em comportamentos anteriores aos que chamamos erroneamente a esteriopias, que na realidade são expressões ora de frustrações ante a necessidade não saciada e, em todos outros contextos, expressões adaptativos a realidade que os invade pelos sentidos, sobretudo, pela pele, como maior órgão vivo em nós. Em suma, tais comportamentos são adaptativos.
Todavia, chorar, agredir, gritar em outras formas de expressar as diversas frustrações podem ser aprendidas e reforçadas por pessoas significativas que se rendem ao desejo da pessoa no traço autista, quando estas agem destas formas. A problemática disso que reforçando birras ou demais manias infatilizadas não favorecemos autonomia funcional, muito menos independência, através da liberdade assistida.

Afinal quem não quer seus desejos realizados e, quando não, agimos infantilmente? Basta lembrarmos de tantas ações passionais de pessoas em grau acentuado de ciúmes, para ficar com esse exemplo das diversas formas da violência infantilóide do mundo adultocentrico.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Falar da subjetividade humana é falar em objetividade em que vivem os homens (...) As capacidades humanas devem ser vistas como algo que surge após uma série de transformações qualitativas (...) a linguagem é a mediação para internalização da objetividade, permitindo a construção de sentidos pessoais que constituí a subjetividade. O mundo psicológico é um mundo relação dialética com o social".

Tentando concluir, apenas por pedagogia, pois precisamos pensar um pouco sobre os traços de autismos encontrados nas diversas pessoas que atendemos direta ou indiretamente, trago a reflexão de necessidade de um novo empoderamento feminino, um que combatam toda a forma de relação desigual de poder. Tentaremos ver como os estereótipos (rótulos) são miseravelmente as nossas atuais formas de justificar todas a manutenção das discriminações às diferenças, estas que ferem-nos por sermos únicos. Sobretudo porque somos únicos, isso é a única verdade. Dela nasce a verdadeira essência da vida, a humildade de que temos apenas um sopro de vida. Uma simples centelha de divindade.
" Os estereótipos consistem em esquemas ou representações mentais sobre grupos sociais. (...) eles interferem ativamente no processo de formação de impressão e percepção de pessoas, que é o responsável pela integração de informações e avaliação de outros indivíduos, ou seja, pelas formas com que o percebedor interpreta os indivíduos que o rodeiam”(1).
Nestas representações é que criamos os rótulos a partir da “primeira impressão”, aquela que nunca fica como verdade, ou que negamos a todo preço por ser quase sempre inconsciente, “As pessoas costumam realizar inferências iniciais (formação e percepção de pessoa) baseadas em estereótipos, o que significa dizer que essas categorias sociais são ativadas de modo automático ou inconsciente”(1)  
Todavia, na aproximação com o real, as representações fazem vencermos ou não o desconhecido, e nesse sentido podemos transformar conhecimento em poder político de efetivação dos direitos" a função das representações sociais é dar sentido ao desconhecido, transformando o não familiar em algo familiar". Neste sentido o autor Martin-Baró diz que para enfrentar a injustiça social presente no mundo latino americano:
“A principal tarefa do psicólogo social deve ser a conscientização de pessoas e grupos, como forma de levá-los a desenvolver um saber crítico sobre si e sobre sua realidade, que lhes permita controlar sua própria existência. De contribuam para a construção de identidades pessoais, coletivas e históricas capazes de romper a situação de alienação das maiorias populares oprimidas e desumanizadas que vivem à margem da sociedade dominante e, consequentemente, levar à mudança social. Trata-se, assim, de desenvolver um saber psicológico historicamente construído que se mostre capaz de compreender e contribuir para sanar os problemas que atingem as maiorias populares e oprimidas”(1).

Bock em sua Psicologia Sócio- Histórica, traz que mesmo que o capitalismo trouxe o individualismo como direito, através da noção do “eu” surge a necessidade da existência da psicologia e em um contexto de ideias liberais, ela deve ajudar-nos a desenvolver nossas potencialidades. 
"Sentimento do eu (...) uma ciência que estude esse sentimento também é resultado desse processo histórico ( da individualização, sobretudo com o capitalismo) assim a psicologia torna-se necessária"(2)
Em pesquisa Bock, junto a 44 psicólogos, percebeu a importância da percepção no processo consciente e inconsciente do ser humano e este visto bio-psico-social ( a qual comumente acrescento o espiritual), que ela também cita a interação entre as pessoas e o indivíduo como agente e sujeito no fenômeno  psicológico. Este que nos habita o corpo e em certos "momentos de crise nos domina" em o meio social como "estranho ao nosso eu". (2). Essa diferença é que nos coloca humilde dependente ao outro, "falar em fenômeno psicológico é falar em sociedade. Falar da subjetividade humana é falar em objetividade em que vivem os homens (...) O mundo psicológico é um mundo relação dialética com o social".(2)A autora alerta que nessa relação temos algo a combater “do cultural somos mediados pelas ideologias que mantém a submissão e alienação do ser humano, pois segundo Chaui as " as ideias das ideologias são, pois, universais abstratos" (2), exemplifica, portanto, a existência de um perigo necessariamente para quem é acrítico: "mãe e do  pai sem se falar da  família como instituição social marcada historicamente pela apropriação do sujeito (...) fala-se de identidade da mulher sem se falar das características do machismo de nossa cultura (...) na verdade não se fala nada, se faz ideologia"(2) Pergunto-me quem lucra com essa ideologia? Bock aponta um exemplo de como nós psicólogos estivemos e, muitos ainda estão, a serviço de uma "higienização moral da sociedade".  Ou seja, exclusão dos que só conseguem viver sem as mentiras sociais, como a pessoa no espectro:" o diferente não é anormal, é menos provável, menos comum. Porque não se deu acesso as condições necessárias para o desenvolvimento daquelas características". (2) 
Neste, exemplo de exclusão do diferente, sabe-se que a  relação de poder está impregnada em tudo não apenas na relação de gênero como, de certo modo se omite o movimento feminista:
"A ideologia, neste contexto, não pode mais ser vista como ilusão, mistificação ou falsa consciência. Precisa ser vista como instrumento de dominação.(...)Introduz-se, sim, a questão do poder, ou dos interesses; O indivíduo, nesta perspectiva, seguindo a tradição vigotskiana (Vigoysky, 1978), é sempre uma entidade social e, como tal, um símbolo vivo do grupo que ele representa.(2) 
Mas, enfim, é em Morin (1984), que Bock, vai trazer a necessidade de união das forças de todos e todas destituídos de acesso as conquistas devido a relação desigual de poder, especialmente as causas das pessoas no espectro, que como disse em outras publicações, acomete a todos indicriminadamente:
Tudo o que é humano é ao mesmo tempo psíquico, sociológico, econômico, histórico, demográfico. É importante que estes aspectos não sejam separados, mas sim que concorram para uma visão poliocular. O que me estimula é a preocupação de ocultar o menos possível a complexidade do real” (2)
Nesse sentido enfim, chegamos ao que desejava conclamar a todas as mães de pessoas no espectro a de fato a atuarem politicamente organizada diante da perspectiva de unirem-se em torno de uma causa maior em  nome da inclusão de todos aquelas pessoas que sofrem com as diversas desigualdades nas relações de poder. Isto posto, afianço que somente em organização social é que se faz de fato um saúde do bem estar física, mental, social e espiritual, ou seja, biopsicossocioespiritual, a fim de fato, valorizarmos o sopro de vida em cada um de nós, como dom divino que nos foi confiado para amar como forma única de viver.
É nesta perspectiva que estivemos silenciosos montando um projeto basilar chamado Espaço Azul a fim de contemplar de maneira humanizada e respeitosa as todas as dinâmicas que nos chegar, a fim de empaticamente trazer reflexões para melhor adaptação junto a um bem estar físico, mental e social.
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1.Psicologia: Teoria e Pesquisa 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 51-64A Psicologia Social Contemporânea: Principais Tendências e Perspectivas Nacionais e Internacionais Maria Cristina Ferreira1 Universidade Salgado de Oliveira

2.O Conceito de Representação Social na Abordagem Psicossocial - Mary Jane P. Spink.

A MORTE PEDE CARONA: ADULTOCENTRISMO E INFANTICÍDIO, NÃO SÓ SOFRIDOS PELAS PESSOAS NO TRAÇO AUTÍSTICO

Repensando sobre tudo que contribuem para a despersonificação de cada ser, penso que a partir da impossibilidade de alguns entre os ad...