sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A MORTE PEDE CARONA: ADULTOCENTRISMO E INFANTICÍDIO, NÃO SÓ SOFRIDOS PELAS PESSOAS NO TRAÇO AUTÍSTICO



Repensando sobre tudo que contribuem para a despersonificação de cada ser, penso que a partir da impossibilidade de alguns entre os adultocêntricos de se libertar de sua carência, abre-se precedentes para dar continuidade ao adoecer através e em cada infante. 
Isso já é visto desde púbere,  mostra-se mais evidente na primeira infância e, evoluindo assim, talvez nem após a puberdade o descendente de adultos extremamente carentes terão meios de liberdade, muito  menos possibilidade de independência. 
Refiro-me a aqueles que cresceram e não desenvolveram, os que encantados pelo desejo dos seus pais, em belo dia descobre que o desejo é individual e isso se torna amor quando em harmonia com os demais desejos coexistindo. Mas por cargas d’água não se libertaram desses desejos e tardiamente forçam seus dependentes a realizar seus desejos. Estes são os escravos do adultocentrismo, repassando suas mazelas de geração à geração.
É como tivesse aprendido, com os avós, que não somos sós, que no mais íntimo âmago alguém assumiria as dores da vida e as sararia por nós. Como se o Divino não tivesse maiores projetos para nós e teria que vir abrir portas, mesmo que estás fossem para nossa perdição, que Ele não tivesse dado nenhuma chance de desenharmos nosso futuro, que não existisse livre arbítrio.
E, assim, nos tornássemos adultos débeis, carentes do amor, sonhos e projeções. Até sonhássemos, mas sendo fruto do desejo alheio nunca saciássemos as nossas perspectivas e nunca gozantes adoecêssemos, porque a vida não teria sentido. 
Então procriaríamos frustrações e criaríamos desilusões. E  do pouco que nós brotasse seguiria o macabro destino desalentador.
E, enfim, nos netos surgem cativos dos desamparados das gerações passadas, tendo que realizar o impossível traçado já falhado pelos avós e genitores.
Neste mundo adoecido do adultocentrismo, a criança e ou a mulher sempre é a responsável pelos descaminhos. Nessa visão, não é de estranhar que ela é base para a hierarquia e visão vertical nas relações humanas.
Neste contexto, o homem é sempre a vítima. Ao longo da constituição do conceito do autismo se viu isso. 
Enquanto a abordagem psicanalítica tentando identificar que na sobrecarga da mulher com o engodo da maternagem se escondia a responsabilidade do homem na necessária paternagem, uns perversos, porque só desejosos de lucrar com a dor de estar vivo, distorceram esse discurso e colocou a mulher como culpada e não tratou de dividir as responsabilidades entre os genitores no acompanhamento dos filhos. Essa distorção dos comportamentalistas foi um brinde ao machismo, implícito no adultocentrismo infanticida. 
No contemporâneo, mesmo que essa abordagem culposa perdura, acresce a isso a culpabilidade das crianças, em um eufemismo para o infanticídio. Exemplifica tal mal a assistência às pessoas no traço autístico quase que exclusivamente, a base de medicamentos e a enxurrada de terapias  enquanto eles tiverem infância.
Destrói-se assim a possibilidade de ternura da ma(terno)&pa(terno), esse terno como sinônimo de evolução na saída do adultocentrismo. E o assassínio da infância.
Eis o dupla carona da morte.
 Em suma, a contínua miserabilidade de geração à geração.
 Pior que isso não ocorre apenas àquelas famílias que possuem um de seus membros rotulados com o traço autístico.
 Isso se dar em todas as famílias que não se debruçam sobre o sentido da vida.
E de formas mais sofisticadas e com requintes mais cruéis.

sábado, 4 de agosto de 2018

RASCUNHO DO PORQUE OS REMÉDIOS DESPERSONIFICA

Pensando no processo de alienação do eu na lógica do bio poder, no qual, através da medicalização da vida cotidiana, tem-se transformado a pessoa em objeto ou inanimado. Essa objetação, da-se no corpo falante, mas amordaçado e condenado ao ostracismo.
O bio poder é o processo da medicina usada  à moda arcaica e descompromissada com a dignidade humana, nega-se basicamente o direito do indivíduo ao seu próprio corpo. 
Isso vê-se em corpos da da criança, do adolescente, da mulher  e especialmente no da pessoa no traço autístico, como exemplo de vitimização na alienação promovida pela ética adultocentrica e a normativa das diferenças advindas pela ótica machista. 
Estas duas formas de subjugação se expressam como deterministas, de um lado com a despersonificamento da criança e, de outro, do direcionamento da mulher  reduzida ao mundo interno do lar, família e dos cuidados.
Nesta dinâmica, a criança e a pessoa no traço autístico são medidas pelas respostas  hierárquicas,  subjugando-as desde a forma de comportasse, são podadas a regras que elas não foram chamadas, ouvidas e nunca compreendidas, são sim negadas em seus desejos, violentamente levadas a se comprometer com os alheios desejos adultos e dos homens.
Já à genitora, nem sempre entendendo essa dinâmica, cumpre piamente reproduz e reforça seu subjugo, ou quando muito não entende ou concorda, mas com o determinismo machista segue sem forças à crítica e muito menos a revolução.
Até mesmo certos homens, pois nem todos sabem que  agem adultocentricamente e machistas, cegos por certa comodidade e lei do menor esforço, agem sem crítica maior em meios a conflitos, como se em zona de conforto padecem a míngua solitários, depressivos ou viciados.
Nisso, todas e todos são às cegas levados a se comportarem como objetos, como peças de uma grande engrenagem, mas martirizando e pisoteando sonhos, projetos e potencialidades, por negarem-se, matando a criança entre outras virtudes da infância e aquelas apontadas como femininas. Negando a porção de vida em si.
Todavia, isso para uma criança e, mais ainda para uma pessoa no traço, parece muito mais bizarro e surreal. Em seus corpos, quando são amordaçados através dos remédios, os seus comportamentos são cerceados tão brutalmente que elas tendem a murcharem e apagarem seus brilhos.
O que deveriam ser usadas em último caso e de modo terapêutico, se tornam a regra. Em seus corpos são presos, amordaçados e, cedo ou tarde, como catônicos vegetam.
Sabe-se,  quanto as drogas medicadas, do crescente grau de tolerância,  no qual um dia terá que se aumentar a dosagem, como se o estado de desiquilíbrio nunca  extinguisse; sabe-se do efeito placebo, onde as pessoas resistem a paralisia e se agitam em seus corpos para não os perderem; sabe-se que com a idade biológica um dia declinará da antiga tolerância de cada vez maior o uso da droga e tornará dia a dia, a pessoa apática, dos profissionais sabe-se de tantas mazelas da medicalização da vida, mas nada fazem, visam o lucro com a miséria humana (...) e dos pais, em suma querem apenas apagar, negar, matar o diferente que cada pessoa carrega em si. Um tragédia do caos e do lucro.
Querem, inconscientemente, matar a porção diferente da pessoa, aquela que nega a realização do desejo de realização adulta e machista. A certo modo, porque o diferente apenas não aprendeu  ou aceita  se negar, pelo contrário, assumindo sua diferença ama a si e não entende porque não ser assim.
Nisso  os remédios são usados para despersonificar  o diferente da pessoa no traço e as demais formas de ser diferente. Mata-se as potencialidades para enfrentar a adversidade, que faz surgir virtudes. 

segunda-feira, 16 de julho de 2018

O QUE NOS DIZ A PESSOA NO TRAÇO AUTÍSTICO?

Os pronomes, invertidos ou a si mesmo ditos, pelas nossas pessoas no traço autístico, talvez possa sinalizarmo-nos ao que a psicanálise nos alerta do desejo do Outro, aquele representante da cultura, adultocêntrica e hedonista, quais, geralmente os pais, são levados a assumir.
Digo levados porque eles não sabem quanto isso é um compromisso de triplo peso aos filhos, assim se comprometem a realizar o desejo de cada um destes dois adultos e quiçá, havendo forças libidinais, ao seu desejo também.
Entretanto, esse último auto referencia é, provavelmente, o mais complicado ato da existência humana, sobretudo aos que assumem ou vivem no ou com o traço autístico, pois desejos, além de  infindáveis tende a se retroalimentar do desejo alheio, desejo de ser desejado pelo outro. Mas, esse é tema que merece tantas atenções que aqui jamais se esgotaria.
Então foquemos no sentido dos momentos que as pessoas no traço, falando consigo mesmo, diz "tu" vai, quer, comer etc.
Parece-nos que esse é, o modo deles, ao seu tempo, implica-se na instância que encontraram para nos alertar que eles fazem-se ou realizam-se através de cada um dos seus personagens principais. Pois só podemos ser o que somos porque dizem-nos que somos, por exemplo, que seria do professor seu o aluno? 
E esse dizer quem o outro é, já indica-nos um fenômeno da interação, mas de um desejo retraído de uma das pessoa para que a outra possa existir. Um ato humilde e empático. Todavia, no geral, nossos desejos  invadem e se prolongam sobre a vida dos nossos dependentes. 
E isso parece ser bem absorvido pelas pessoas no traço autístico. Pois eles, não só pedem, ordenam que sejamos realizadores não só das necessidades, mas de seus desejos, demandas e etc., denotando que aprendeu a fazer extensão de suas satisfações. Fruto de uma relação simbiótica, que aqui não cabe problematizar, devido as suas possibilidades de evoluções.
Mas também, necessitamos, nós adultos, percebermos que assim eles pedem a quem supostamente detém o desejo deles, a autorização para poder também desejar. É comum eles, como se na terceira pessoa, dissesse de si "Fulano quer", expresso a uma das pessoas significativas, referindo-se a si mesmas nos corpos dos outros.
Sinalizando que aprendeu com quem mais tem ganhos nas relações as imitando. Exemplo disso é que quando na relação marital, o marido tem mais liberdade e poucas atribuições quanto aos cuidados. Estas ações indiscutivelmente são mais caras a alma de quem cuida, pois não é só provado que depois do doente, estes mais adocem, como também são as primeiras a se e serem culpadas pelos momentos mais difíceis.
Então, nesses casos as pessoas no ou com o traço autístico nos ensina quanto são graduados em inteligência emocional, ao imitarem aquele que tem menos peso nas relações. 
Que será que essas pessoas no ensinam com isso?

quinta-feira, 21 de junho de 2018

O ESCUDO DE MUITOS: AUTISMO


Após um período sabático, no qual aproveitou-se da irresponsabilidade de nada dizer, parafraseando Freud, quando dizia que somos escravos do que falamos (...) inconscientemente concordei com o pai da psicanálise, que sou livre do que calo.
Mas, não tem como silenciar quando se refere ao Outro e seus dilemas. Se nós que, mesmo, trabalhamos a partir de uma base fortalecida no tripé da psicanálise: estudo teórico, supervisão com alguém substancialmente mais experiente  e, ainda, especialmente, com um trabalho pessoal, psicanaliticamente falando, cedo ou tarde saberemos da importância de escoar um pouco do imenso aprendizado acolhido em interação com cada paciente.
Então, assim volta-se a tentar contribuir, ou assim, espera-se estar a ajudar as pessoas em seus processo de dignificação.
Egoistamente, pensou-se que isso daria-se apenas em uma obra mais robusta, ancorada e perpetuada em teóricos e sínteses bem amaradas na clínica. 
Mas, lembrou-se quanto ao debate clínico em setitng terapêutico, em suas provocações despidas de maiores mergulhos teóricos, os quais, fazem-nos chegar a maior ancoragem, não só teórica e, se não podemos chegar ao suposto poder de cura, sabe-se quem o alcança é apenas o paciente em seu processo maturacional de autoconhecimento, enquanto nós ficamos no calabouço de nossas bibliotecas.
Assim, pois, eles, todos os pacientes, que quando se autodeterminando à aproximação com suas almas, quase que esquecidas nos recôncavos dos seus corpos; ou estas fugidias, parecem que nessas pessoas não mais vivem e vagam como penadas; ou pior, como alguns mais severos condenam ceticamente, que existem nestes seres uso prejudicial do quase escasso oxigênio desmerecendo o valor deles, como se eles não merecem viver por estarem como zumbis (...) em suma, na clínica, todas as possibilidades de viver ou morrer se desmascaram.
Na labuta com os que convivem com os acometidos no traço autistico não poderia ser diferente, ao contrário, isso fica mais latente evidente.
Isso posto, sobretudo, porque são os acometidos que lastimavelmente, tem o grande labor de ensinar aos, supostamente, mais maduros – sejam os pais, profissionais da saúde, educação e demais agentes das precárias políticas publicas -  como estes podem  os acessar em os aceitar e, não só meramente os respeitar. Isso porque respeitar tem vínculo com direitos e deveres, mas em país que as leis são evoluídas melhor funcionaram, mas por nascerem  verticalmente, de cima para baixo, como ocorrem em países em precário desenvolvimento humano, o direito é um raio que quase nunca cai duas vezes em mesmo lugar.
Então, as pessoas no traço, ensinam-nos, a todo estante, como os amar. Essa lei, universal – imponderável, universal e eterna – é a única capaz de  garantir, para além da liberdade, a independência não só do filho com o traço autístico e, sim, aos seus responsáveis por elas, que na maioria  das vezes, utilizam-se  de formas de  usar essas pessoas no traço autístico para não enfrentarem seus próprios dilemas.
Quer-se dizer que a maioria das pessoas que consciente ou inconscientemente, alegam não viver por ter que cuidar dos filhos autistas o fazem, quase sem perceber ou aceitar, para não enfrentar seus próprios limites que retroalimentam suas próprias dores.

A MORTE PEDE CARONA: ADULTOCENTRISMO E INFANTICÍDIO, NÃO SÓ SOFRIDOS PELAS PESSOAS NO TRAÇO AUTÍSTICO

Repensando sobre tudo que contribuem para a despersonificação de cada ser, penso que a partir da impossibilidade de alguns entre os ad...