quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Relações ou Poder - Um questionamento à Coisificação do Amor na Relação Familiar ( Terceiro Tema do Ciclo de Palestras Coração de Mãe)

Se nas duas primeiras palestras do ciclo de Palestras promovidas por este blog, a que intitulamos "Coração de Mãe:  Escutando teu coração, partilhamos sonhos, encontramos flores do aroma que restou", como tema macro, focamo
s nas demandas da mãe de filhos com Transtorno do Espectro Autista - TEA, hoje vamos mais afundo ao contexto sociofamiliar, onde ocorre a manutenção do sofrimento de cada mulher.
Nessa terceira oportunidade queremos pensar sobre o resgate do amor, no extremo da verdade desse verbo, o amor Ágape. Não apenas o mero desejo do amor Éros ou o Filos. 
O amor Éros ama a si próprio e usa o outro coisificado e é esse que questionamos por sua mera fragmentação da beleza humana  reduzindo-a ao corpo, negando a alma, vida social e espiritual de cada ser.
 O Amor Filos também, pois este, ainda não evolui para amar o outro como ele é, e sim, como gostaríamos que ele fosse, basta ver que desejamos o melhor para nosso filho e entramos em conflito  com o mesmo quando ele não entende tal desejo.
Desejamos chegar-nos ao Amor Ágape, neste se ama o inimigo que há em nós, mas não se conforma com ele e luta cotidianamente por uma evolução biopsicossocioespiritual. 
  Isto posto, a fim de lembrar que em todas as formas de família, atuais e historicamente, têm um pano de fundo, as Relações de Poder, que tem mediado todo o sofrimento dos membros de cada lar, sobretudo, a mulher e os filhos e quando com TEA, mais ainda. Todavia, nestas relações, é a mulher quem se torna a maior vítima e mantenedora de um ciclo de retroalimentação de sofrimento. Chegando até a ser acusada por sua própria dor.
Mas não preciso enfatizar que este é um suposto poder, como já pontuei em outras postagens, pois todos ao falar de relações de poder, a qual se vive em contexto de violência, dificilmente sabe-se onde  ela começa e termina e o grau de sofrimento do algoz e da vítima, caracterizando como questão de saúde pública,  um complexo paradoxo: o adoecido doa a outro sua dor agressivamente.
Para pensar neste paradoxo, trago o fenômeno do conto de fadas, que geralmente é uma criação de um artista que ao sofrer transforma tal vivencia em arte, coletiva ela em forma de sonho e chega até a universalização. Assim da mesma maneira, creio que não mitologicamente, mas no real, pode-se (re)criar os cenários e papeis por nós atuados.
Para tanto, temos que lutar amando-nos, ou seja, aceita-se e amar o inimigo que há em si. Por exemplo, o homem macho, ama a coisificação da mulher objetada. Porém ambos podem recuperar o melhor de si através do amor Ágape, negando o amor Filos e Éros, respectivamente. Quero dizer amar integralmente e não em parte. Não como queremos o outro e sim como a pessoa está e o ajudar a encontrar seu melhor, na ótica dela. Caso contrário acabamos como cita Adriana Laión, no artigo Espetáculo, dentro da obra " O Corpo Falante" da Associação Mundial de Psicanálise: 
"A incitação à felicidade, representada por hedonismo massivo, é um exemplo desse imperativo. Hoje mais que nunca, o homem torna-se um indivíduo entregue a solidão de sua vida, na qual lhe resta mais do que se reunir com os outros,tão solitários como ele, para fazer comunidade que não alivia nem dá sentido ao sofrimento particular".
Enfim, esse é o homem que sofre e se relaciona assim, enganando-se, regido por um suposto poder, perdido nesse hedonismo ( amor egoísta e doentio, devido a seu sofrimento particular busca satisfazer desejos primários) e quando não satisfaz agride para equilibrar sua falta. O que não justifica a violência, mas nos faz se aproximar para a entender. O agressivo é um ser faltante tamanho que pensa que destruir é ter poder. Para refutar isso, deixo uma fábula:
"Um grande guerreiro chegando a uma pequena aldeia, encontrou um velho homem, que não conseguira fugir como todos os aldeães. Diante deste idoso o grande guerreiro concedeu-lhe um último pedido. O senhor pensou e o pediu que lhe trouxesse um madeiro. O guerreiro achando que ele era louco empancou, porém, não querendo perder o respeito do seu exército decepou um grande galho de uma árvore e trouxe já talhada ao pedinte. Este, diante do madeiro disse ao guerreiro: - Grande senhor se tens poder faz esta madeira voltar a vida da qual você a tirou. O guerreiro  retirou-se, crente que o poder não destrói e se foi com sua impotência.
Em suma, Deus dar a vida, você mãe a sente e a desenvolve, a amamenta e a transforma em família. Isso sem dor e negação a si mesmo, em nome do amor verdadeiro, nunca poderia ocorrer.

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* Adriana Laión,  artigo Espetáculo, in Scilicet: O Corpo Falante - Sobre o Inconsciente no Século XXI. São Paulo, 2016

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