quinta-feira, 24 de março de 2016

Psicanálise Religião do Pai


Se a Psicanálise se fez como uma religião do pai, creio que se realizou através do pai morto, metaforicamente ou inconscientemente, pois Ela traz como base o pai morto em Édipo e o não sacrifício de Isaque, em ambos, o desejo e vida do filho em detrimento do parricídio e castração do pai, respectivamente.
Na mitologia grega, Édipo ao cruzar com o pai o mata e desposa a própria mãe, e ao saber  arranca-se os olhos; na ética judaica, Abraão é levado a ofertar o filho. Nisso lhe é negando seu desejo três vezes, de ter filho com idade avançada, de ter que sacrificar e de não o fazer.
Não é em vão que a Religião do pai, na época de Freud, hoje a psicanálise estuda o filho. (...) “As famílias de hoje se definem mais com base na criança do que no pater famílias”(1).
O filho não castrado em seus desejos tem sido constante na sociedade atual. A pós modernidade tem ofertado suposto gozo desmedido. “Freud propõe a imagem da satisfação do lactante saciado que adormece no seio para ilustrar o que se repetirá mais após a experiência do orgasmo”. (2)Como se reproduzindo esta satisfação.
Este gozo psíquico funciona como carrasco, a pulsão de morte, ao seio da mãe estendendo o acesso ao todo corpo, o objeto de desejo da mãe, como Édipo que após o incesto vai ao deserto após extirpar os glóbulos oculares.  No caso atual, temos a atual geração livre ao gozo estremado, adormecido entre tantas formas de entorpecentes, crente que sempre terá a mãe para saciá-lo, autistica (mente).
Neste contexto, o desejo da mãe, desvairadamente é satisfazer essa pulsão de morte dela e do filho, e obrigada pela sociedade que a condena. Essa é a demanda do pai. A moral, a responsabilidade da mulher hoje é ter diversas jornadas, enquanto o pai morto, segue sua saga necessitando se ressuscitar. Mas nisso, muitos se revestem de um machismo violento, tentando viver, através de vícios mil, máscaras de mortes pequenas.
Ante a isto, fica nítido que nunca se foi tão gritante a necessidade do Édipo pai não temer o oráculo que anuncia a tragédia e, enfrentar sua  necessidade do amor e humildemente entender que todo este sistema o faz de apenas peça de desejos alheios. É preciso reconquistar o sonho de ser pai, para não ser apenas genitor e chegar a paternidade libertadora onde nossos pais falharam.
Lacan, anuncia em Freud  que (inconscientemente), “ A lei freudiana, a do Édipo, era correlata ao amor pelo pai (...) lei do amor, isto pai versão” (1). Entendo esse conceito de pai versão, a do macho  (apenas gera)  vencendo seus instintos de filho ( como neste século de gozos ilimitados), não se contento de ser aquele que apenas mantém, provém (pai), evolui a paternagem aquele que cuida em favorecer o filho através de reflexão dos caminhos do desejos dele, guiando-o quanto as consequências do destino traçado por ambos

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1. Sophie,Gayard.: Pais Versões, in Scilecet, O corpo Falante – Sobre o inconsciente no sécuo XXI, Escola Brasileira de Psicanálise, Rio de Janeiro, 2016;
2. Béraud,Anne.: Orgasmo, in Scilecet, O corpo Falante – Sobre o inconsciente no sécuo XXI, Escola Brasileira de Psicanálise, Rio de Janeiro, 2016



quinta-feira, 10 de março de 2016

EM NOME DO PAI

Em tempos que a ordem e lei está sendo destronados por uma ética individualista, faz-se necessário pensar sobre a função paterna. O individualismo é, para mim, expressão gritante das satisfações mais desumanizantes. A isso, Lacan, poeticamente, diz “(...) o sujeito alucina seu mundo. As satisfações ilusórias do sujeito são evidentemente de ordem diversa das satisfações que encontram seu objeto no real puro e simples. Nunca um sintoma aplacou a fome ou a sede de forma duradoura, sem a absorção de alimentos que as satisfaçam”. (1).
No Em Nome do Pai, o freudiano amplia que “elementos de comportamento instintivo deslocado no animal são suscetíveis de nos fortalecer o esboço de um comportamento simbólico. O que, no animal, denominamos um comportamento simbólico é o fato de um segmento deslocado assumir um valor socializado e servir ao grupo animal como referência para certo comportamento coletivo” (1). Essa coletividade melhor acontece através da paternagem, ela  gera um verme da sociabilidade ao filho. Isso se dá quando o pai proíbe ao filho de prazer extremo do corpo da mãe, assim o filhote pode perceber sua existência para além do corpo dela e, portanto, tem que lutar pela sua, ainda, sobrevivência, visto que só se viverá, quando este torna-se livre, metaforicamente, parricida. Neste sentido temos em Lacan “O eu é isso em que o sujeito só pode reconhecer incialmente alienando-se” (1). Esse é o filho.
Por sua vez, o pai, Freud, fala “O pai primordial é anterior (...) ao surgimento da lei(...) da cultura”(1), ele introduz tanto a lei e a cultura ( como poder que liberta) ao filho, poder horizontal em cada núcleo familiar. Seguindo esse princípio, basta dizer que o nome do pai nasce da mitologia hebraica, a de Abraão e infanticídio sobre Isaque. É o fim do genitor (na fala de Freud o pai perverso), surge o pai, e disso provoco, o  paterno cuidador e harmonizador junto à maternagem.
Quero dizer que, o  homem sem direito ao infanticídio, surge a possiblidade de nova regra de uma lei democrática participativa. Onde o poder não é desigual e, sim harmônica. Assim, o dom de gerar filhos é dado ao humano, a morte Deus retém a si. Então o filho pode definir, quando livre, seu destino, salvo sejam os pais, também, livres, ou seja materna e paterno.
Em seu artigo Pai-Versão, alcunha de Lacan, Sophie Gayard, afirma que “Estilhaçados, recompostas, monoparentais (...) as famílias de hoje se definem mais com base na criança do que no pater família que por muito delas definiu o estatuto”(2). Lacan, traz em sua noção de Pai-Versão, o pai morto, do mito edipiano. Aquele, onde o filho inconscientemente mata o pai e casa-se com a mãe. Aqui incluído a metáfora do parricídio, que entendo como a negativa do pai de poder sobre o corpo do filho, uma negação a morte do desejo do filho, pelo contrário permissão para que ele deseje e faça seu destino. Pois, ambas metáforas, falam da morte (necessária) do sonho do filho idealizados pelos pais.
Falei que o pai introduz o filho ao mundo através da lei e da cultura, vejamos como quanto temos que os ajudar. Em Corpo da Criança, Neus Garboneu, diz que “A chegada ao mundo implica que os efeitos da linguagem no organismo o transformem em corpo. É dessa maneira o bebê deve chegar a conquistar seu corpo(...) E deve fazê-lo precocemente” (...) a impotência motora da criança será a chave para conceber o peso (...) na formação do eu(2A). Esse peso, em diversos casos de filhos, como pessoas com TEA, é mais duradoura e esse eu fica menos visível a olhos não treinados. Garbonel, faz-me lembrar que crianças típicas jubilam com sua imagem refletida, ao tempo que a criança com TEA, isso, possivelmente, não ocorrerá tão facilmente assim. E esse jubilar ajuda a montar a consciência do seu corpo, que para Lacan é imaginário. E, isto, junto ao fato do objeto transacional pensado por Winnicott, que são objetos que ensinam a criança a se libertar da ausência do corpo da mãe. Tal fenômeno é mais complexo para a pessoa com TEA. Este parágrafo foi dirigido ao pai, o que pode se permitir às metáforas do parricídio e do infanticídio, especialmente se vosso filho estiver dentro do espectro.
E, assim podemos citar enfim, Alba Flesler, em sua obra A Psicanálise de Crianças e o Lugar dos Pais, onde ela diz que a criança só existirá a partir da mãe, através mediado com o paternal como a lei. E quando essa função falha, abre-se para morte, um vazio orientador, aqui basicamente se instala o infanticídio.
Assim, concluímos que a paternagem nasce da morte do macho que apenas procria, evolui ao pai apenas provedor, até chegar no paternal, favorecedor do amor, da liberdade da criança, capacitando-a a escrever seu destino.
Para isso, nega-se o poder matar os sonhos e, também, de ser dono da verdade. Nasce  humildemente a possibilidade para o que Winnicott, chama com a Mãe Suficiente Boa, aquela que não castra os sonhos do filho, mas sonham os três juntos. Pois, pode ela, assim, não precisar ser muito defensiva para proteger o filhote o sufocando, nem tão pouco o abandonará, o negando, por ela também estar só e, pelo contrário, os três serem um só.
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1.        Em Nome do Pai , JAQUES LACAN 1901-1981. Ed. Zahar, Rio de Janeiro 2005;
2.    Pai-Versão,  SOPHIE GAYARD. SCILICET O Corpo Falante, sobre o inconsciente no século XXI, X Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, Rio de Janeiro, 2016 ;
2A.    Corpo da Criança, NEUS GARBONEU. SCILICET O Corpo Falante, sobre o inconsciente no século XXI, X Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, Rio de Janeiro, 2016 ;

3.      A Psicanálise de Crianças e o Lugar dos Pais, ALBA FLESLER,Ed. Zahar,Rio de Janeiro,2007.

segunda-feira, 7 de março de 2016

As relações na rede social, o olhar que não ver a pessoa no TEA

A sociedade que mais enxerga e nada ver, pouco observa, então nunca verá o que estar  para além do que se precisa ser refletido.  Se enxerga então como se diz da pessoa enquadrada no Transtorno do Espectro do Autismo -TEA.
Se essas pessoas, apenas olham de relance, usam os objetos de maneira incomum, usam-nas em parte, não no todo, é porque a parte que não é um todo completo, não o interessa e o deixa em sua forma de usar o mundo, diferente como nós usamos o celular, pouco ou não falamos por ele. Será que também estamos pouco ou não nos relacionamos com as pessoas?
Existe uma tese, a da Gestalt, da soma das partes, que não é o todo. O todo não  é sem estas somadas, para fechar a Gestalt, a imagem a ideia a relação, precisamos  conhecer  as partes para viver o todo.
Penso que como, para psicologia social, somos o que nos diz que somos. E sei da a psicologia do desenvolvimento e da psicanálise, que o mundo onde cada um nasce, já vem pronto e querem que nos adaptemos a ele. Uma dura violência ocorre ai. Então se nos relacionamos em parte e não totalmente, dizem-nos que somos parte e não um todo? E nos relacionamos em parte e cada dia ficamos mais sós?
De alguma forma, sim somos em parte vazios e não nos buscamos nas relações mais profundas, ficamos sós e vazios. Onde, a pessoa íntima nos mostre que estamos sendo e aprendemos ser melhor para nós e para o mundo que nos circunda.
Assim, para ser relacionar a três ( pais e filhos), com a pessoa em o TEA – digo assim em o, no, porque estou me indagando se  o termo “com o TEA” não comunga com uma ação  passiva da pessoa em questão. Ou seria uma parceira, não sei, apenas indago que “em o ou no TEA” tenha algo mais dinâmico e essencialmente, ativo(...) -, enfim, isso me ajuda a refletir que se somos ativos, vivos e não levados a torto e a direito  manipulados como marionetes  dos desejos alheios, podemos ser o que nossos desejos nos direcionar. Como também a pessoa no TEA não é passivo, por mais solilóquio, monólogo, só seja o agir dela.
Entretanto, tudo isso ajuda a entendermos que o nosso desejo é contaminado devido a realidade de sermos os desejos de nossos pais, antes mesmos de nascer. Até que começamos a enxergar de fato e nos constituírmos desejantes para além do que a nossa visão alcança. Mas mesmo ainda assim, dependeremos da cultura contextual que nos toma como presa fácil. Nesse, sentido, só quando fazemos dois processos de assassinatos e mortificação é  que nasceremos, para desejar por nós mesmos.
A  primeira ação violenta nossa é  o parricídio temos  que psicologicamente  mortificar os desejos que ouvimos de nossos  pais em nós. E depois matar o que as culturas deles em nós, seguirá um último,  mas muito necessário, assassinato psíquico, mortificar o nosso corpo como foi concebido até então, um auto infanticídio. Ambos, parricídio  e infanticídio que contextuei, são psicológicos e, portanto, atos de autoconsciência tratadas apenas em trabalho facilitado por um a pessoa treinada a apoiar o desenvolvimento a partir da dor ao amor.
Socializarei tal perspectiva a partir da superficialidade da interação social via as redes sociais. Onde a vida parece menos compromissada, ou ao menos, não há o olhar discriminador do outro. E sim o gozo violento do olhar do outro, onde não se pagar para ver.
Em, “Imagem Virtual” Ennia Favret, citando Lacan, no Seminário “A Angústia”, diz “O que o homem tem diante de si nunca é senão  a imagem  virtual”, parece uma enunciação do desastre do vínculo, das relações intimas o fim do amor. Ela diz,“as inovações  tecnológicas proporcionaram novas realidades virtuais, novas encruzilhadas entre o real e o imaginário”.
São, novas fontes de vida no “Império  do olhar, do gozo e satisfação imediata”. E como um excelente catalizador do prazer, um filho em o TEA, vai tomar  ou tentar ser o alvo de tamanha fonte do prazer, ser alvo dos olhos do outro, o mais importante  olhar,  geralmente da mãe, pois o filho no TEA, aprendo com o pai, que a mulher é alvo de ser conquistada, de ter a atenção dela.
Suponho até que muitos deles são tão perfeccionistas para serem alvo desse gozo escópico, do olhar do outro, que se tornam os melhores em determinado atividade. E assim se excluem, ou são socializados a partir suas habilidades e não por si próprios. Cortejando quase sempre o desejo avassalador, imediato e indesejável de seus pais. Vivem suas habilidades e não a pessoa, que luta desesperadamente negar o TEA que nele estar.
Não faço essas provocações a fim de me odiarem, mas  afim que amem-se como estão  sendo capazes serem, pois gênios  não se fazem de desejos alheios de seus pais (pois todos querem filhos gênios) e, sim de desejos íntimos  de cada filho um apoiados em cada contexto  familiar  Ou outra comunidade íntima. Mas ser ou não, apenas esconde quem realmente quem estamos sendo e, como apenas  queremos  ser acolhidos como de direitos a vida, mesmo sendo, todos de modos diferentes de viver, e a diferença é nossa maior riqueza. Como se diz, “ter direito  a ter direitos” de viver como nós  é  possível.
E não escravos do nosso olhar alienado. País que vivem as vidas alheias na distância fria das redes sociais, seja por medo de não ser aceitos, ou e também, incapacidade de aceitar o que lhe fazem ri ou repudiar, mas misteriosamente desejam, ao menos ver. Enquanto, filhos tem que se tornarem tão hiper(tensos) para ser centro de atenção e não vivem suas prazer.

Hiper tensos porque atos que os ajudavam a equilibrar as angustiantes reações  intraorgânicas  ( expressos em estereotipias), que eram alvo de cuidados e atenção, viram únicos meios  de ter o olhar daqueles que agora é viciado na fuga das redes sociais.  Levando-os a manter maior tempo em comportamento estereotipados para conquistar a atenção do olhar amado.
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Créditos das imanges, Instragram sentimentosdasociedade;

Citações:“Imagem Virtual” Ennia Favret, in: O Corpo Falante: Sobre o conhecimento do inconsciente no século XXI, Associação Mundial de Psicanálise, Rio de Janeiro, 2016


A MORTE PEDE CARONA: ADULTOCENTRISMO E INFANTICÍDIO, NÃO SÓ SOFRIDOS PELAS PESSOAS NO TRAÇO AUTÍSTICO

Repensando sobre tudo que contribuem para a despersonificação de cada ser, penso que a partir da impossibilidade de alguns entre os ad...