sábado, 9 de julho de 2016

Educar para a vida.

Se de repente  os alunos  atípicos denunciam nossas limitações, nos colocado em  cheque ante a nossa precário conhecimento sobre eles mesmos, encaramos nossos limites de conhecimento, afetam inevitavelmente a frágil estabilidade  econômica (status) e sobretudo, a  nossa precária inteligência emocional (subjetividade), especialmente se somos da rede privada de ensino.
Quero dizer que assim, eles nos confronta em nossa particular dimensão  social e psíquica  afetando somática e diretamente nossos corpos e, assim, interagimos com eles como sem regra, perdendo  nosso destino de ser o melhor no que fazemos.
É um dilema, que concerne à nossa segurança  biopsicossocioespiritual de educador e/ou de outro  qualquer  profissional  que lida com a pessoa com traço do Transtorno  do Espectro do Autismo  TEA, bem como qualquer outro  atípico.
Refiro-me de imediato  a segurança  econômica  porque  esta está diretamente ligada a atual conjuntura ideológica. Sobretudo, porque em um mundo  pós moderno, o neoliberalismo ensina que somos mais livres tanto quanto  podemos consumir, ter  em detrimento de ser. Mesmo que não concorde que nem somos, apenas estamos sendo algo em cada contexto, essa realidade da grande maioria, alienada.  Eu não sou psicólogo e ativista em direito humanos 24 horas, tem horas que nem sei o que estou sendo, principalmente para os meus pacientes, por exemplo. Logicamente, porque sei que o que estou sendo é dialetizado com quem estou partilhando em determinado  contexto em perene dinâmica.
Enfim, através do econômico nos aliena de nossas virtudes consumindo-nos, nos aprisiona em precárias percepções  errôneas de nós, de contextos e dos demais mecanismos que nos enriquecem de vida real e sapiência potencial em cada ser vivo, sobretudo, os nossos educandos, que teimamos, eufemicamente chamar de especiais.  Não nos enganemos, eles apenas sofrem devido a nossa deficiência de não os entender colocando contra eles barreiras.
Especiais são as ciências que eles desenvolvem para lidar  com esse mundo adoecedor. Basta citar aqueles educadores, ainda, alienados, educam a partir de pressupostos desumanizantes ampliando nossas diferenças como se não fossem virtudes. Estas diferenças que nos pune e nos limita e a os no traço TEA infinitamente mais.
A maioria de nós, somos, por exemplo, manipulados a um processo alienante e desumano de como são elaborados as especializações. Através delas, formamo-nos especialistas em um foco minúsculo de determinado conhecimento e, com isso, caso nos fecharmos ao universo e dinâmica  dos novos saberes, nos transformam em doutores iletrados, especialmente quando  se referimos ao ser, e muito menos a vida e para que aqui estamos e para onde viemos. Pois, sabemos muito pouco além do nada que nos especializamos.
Nesse sentido, o educador, o maior profissional e cidadão, nesta concepção de sociedade, é o mais mal remunerado, em sua dura missão  de libertar cativos da ignorância, o que mais trabalha, pois tem que estar (re) editando a todo instante suas práticas, este profissional é quem melhor  espelha a verdade de que nunca estamos prontos, que somos sempre  uma obra em desenvolvimento.
Nisso, nasce a humildade de  estar aberto permanentemente ao novo. Caso não  queira ficar ao caminho, presa fácil, também, à alienação. Mas diferente da humilhação que vivem os educadores, a humildade é que pode ajudar a nos se libertar, mas apenas se nos colocar como aberto a aprender a aprender cotidianamente com o alunado.
Por sua vez, humildade é mais indispensável quando lidamos com uma atípico. Junto a um deste fica mais evidente a célebre frase “eu sei que nada sei”. Com uma criança  com traços TEA temos que além de humildes se deixar guiar pela criança, para além do desenvolver de uma empatia e uma força  respeitosa,  amar o que se faz e a quem faz. Todavia, isso apenas se instrumento de vínculo. Ensina para a vida, através disso.
E ai surge outro mistério, a criança é quem escolhe  a que(m) se vincular. A pessoa com traço TEA introduz essa máxima, como marca de sua autonomia e sua forte interação com o meio. Tudo depende disso e, assim o escolhido, provando que eles não vivem em seu “mundinho”, ele também escolhe o que fazer, através do vínculo estabelecido, pode-se adaptar o conteúdo à dinâmica da pessoa com o traço TEA.
Portanto, todos que se dispõe  dar acesso ao conhecimento a essas criaturas  tão  únicas como nós, precisam atuar através de uma independência significativa ( através de uma boa dose de inteligência emocional) para ser guiado  pela criança  em sua  peculiar forma de ver e viver nesse mundo. Não foi por engano que coloquei  “que (m)”, pois, para sua  proteção parece-me, comum entre algumas pessoas com traço TEA,  quem se utilize das pessoas como objetos,  na busca de atenção e cuidado, usam as pessoas como instrumentos de acessos aos seus desejos.  
Esse é o instrumento, onde o educador  humilde ( para além do pensamento paulofreiriano) se coloca para partilhar um pouco da forte invasão sensorial que essas crianças sofrem, em nos permitindo ser objetal, podemos favorecer que eles (quicá) possam se adaptar aos contextos de maneira menos sofrida e, assim também, encontramos meios mais estimulantes para os educar.


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