quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Discurso contra à violência do nosso Desejo: Quando elegemos o Outro como fonte de vida.

Em outras publicações tenho falado do Desejo do outro, como dos pais sobre o filho.
Creio, que se temos que aprender a barrar nosso desejo. Porque a violência do nosso desejo barra até os vestígios dos sonhos e matam na criança as delícias de viver. Para cada Pessoa Sem Desejo há mais de uma pessoa propensas a ser infanticida.
Produto da culpa, a vergonha e a punição, pois diferentes da solidão libertadora, vive-se  no seu próprio corpo como prisão, apenado com a solidão adoecida entre a angustia e a ansiedade.
Se ficarem presos aos corpos dos filhos, como fonte de vosso desejo de não realização, ficá-se-á atado a possível determinismo imersos a um destino morto no hoje.
Enfim temos que viver  para além destas amaras, sair da solidão que esteja ligada ao desejo não realizado e ir a a peculiar solidão que ensine quanto ao nosso estágio e, como se pode evoluir.
Neste contexto, trago alguns apontamentos sobre representação social, conceito pensado na psicologia social que é concernente ao conhecimento humano para além do cientificismo cartesiano, pois considera o conhecimento do senso comum fonte inesgotável de significativas contribuições ao inserção das diferenças como meio de efetivação da dignidade humana, como as mãe de filhos com TEA.
 Jovchelovitch, em seu artigo "Psicologia Social, saber, comunidade e cultura", sabendo da vitalidade desse conhecimento popular alerta "A representação também distorce, mente, ilude e confunde. A hiper-representação é, naturalmente, parte do poder da representação, já que o simbólico é uma esfera onde a lei do “faz-de-conta” se aplica".  Nessa citação alerto da necessidade de não esquecermos que todo conhecimento é instrumento dotado de poder  e pode ser usado de maneira não libertadora, pois toda a mãe por exemplo, é maculada por um simbólico que não a fortalece como pessoa de direito e, pode ela, mesmo que inconsciente, em busca de espaço nesta sociedade, desfavorecer o filho.
Neste sentido, a autora articula o conceito de representação com o das relações de poder,   sabendo que essas coexistem em todas as relações humanas  e, quando um adulto impõe seu desejo à criança são relacionados interesses e projetos adutocêntricos independente do gênero junto as questões geracionais, sempre penalizado é o dependente ( crianças, adolescentes e idosos, por exemplo).
 Lembro-me, assim das relações objetais que ocorrem quando se quer transformar o outro em responsável pela realização do nossos desejos, como as crianças são usadas.
Enfim, Sandra Jovchelovitch, no mesmo artigo , foca ,sobretudo, na polifasia cognitiva, deste conceito podemos apreender que contrário a impor nossos desejos as nossas crianças e, em especial às pessoas com TEA, devemos a elas novas formas de relações sociais, para produzirmos juntos as infantes, novos formas de conhecimento.
Tal como as mães que lidam com filhos complexos como pessoas com TEA:  "para as psicologias de Piaget e Vygotsky, que tinham um entendimento claro da natureza social da lógica e se propuseram a demonstrar em detalhe a maneira através da qual a sociedade dá forma ao desenvolvimento das estruturas lógicas na criança. Os dois mostraram que relações sociais diferentes levam a modos de saber diferentes".
Esse modo de saber multi é basilar para aceitarmos as diferenças e também funda a aceitação do diferente como cidadão de direitos e deveres e favorecer melhor escuta à maior riqueza humana, a diferença: "A análise da constrição e da cooperação - os dois tipos de relação social que Piaget estudou – forneceram mais evidência à proposição de que formas diferentes de interação produzem lógicas diferenciadas". Não há muitas alternativas para a vida em sociedade que vencermos a lógica utilitarista e competitiva dessa sociedade do consumo.
Neste sociedade pós- moderna os estudos de Vygotsky e Luria tem pouco valor, pois o biologismo poda e exclui o poder das relações humanas, como a mãe-bebê, precisamos resgatá-la como meio mais que curativo, preventivo: (graças) "a estes estudos hoje nós podemos afirmar que tanto o conhecimento como a mentalidade do sujeito do saber que lhe corresponde são organicamente vinculados ao contexto social da comunidade em que eles são produzidos".
 Portanto, o conhecimento das mães de filhos com TEA não pode servir apenas para elas precisam ser estudados e disseminados.   Pois, o saber é amarrado a uma comunidade e seu contexto, segue-se a derivação quase óbvia que os saberes variam. Há um número infinito de formações sociais que produzem um número infinito de formas diferentes de saber. 
Por outro lado, sabe-se que a partir de "Durkheim e Piaget era claro que formas superiores de saber, encontradas em adultos e populações “civilizadas”, deslocariam formas primitivas, encontradas em crianças e povos “primitivos”". Aqui vamos a autora vai além do valor do adulto ( aproveito para citar a mãe), e onde me apoio para citar a virtudes de nossas pessoas com TEA, precisamos as escutar e favorecermos suas experiências, isso para melhor lidar tanto com as diversas formas de autismo, como também as psicopatologias. E quicá, aprendermos mais sobre nós de fato,através do amor às diferenças.
Lévy-Bhrul, me dá base para afirmar que se cada pessoa com TEA é única e produzem ela com sua mãe forma particular de viver a sua realidade dentro do espectro, podemos com cada vivência, aprender mais sobre a riqueza da vida humana, através da aceitação das diferenças, assim, este autor, "demonstrou que lógicas diferentes não são mutuamente excludentes e não operam sob o imperativo da substituição". 
Neste sentido, Vygotsky  coincidia  com ele na noção mais fundamental de que "a transformação do saber é descontínua e não há substituição nas formas do saber, mas co-existência" (parafraseio co-existência das diferenças).
Segundo Moscovici, "os saberes coexistem e podem ser contraditórias, mas isso não é um problema se nós abandonamos a lógica formal e sua dualidade ao concebê-las como opostas e abraçamos uma perspectiva dialética". Neste ínterim, cada dialética entre mãe- pessoa com TEA, nascem, portanto, novas riquezas humanas e dessa interação nascem novas formas de viver com maior dignidade.
A autora, baseada em Moscovici, "o conceito de polifasia cognitiva mostram que todo saber é produzido em uma relação entre sujeito-sujeito-objeto, no tempo e no espaço. O entendimento dos saberes e de suas múltiplas lógicas envolve o entendimento da representação, enquanto um sistema de relações psicossociais que envolvem".Neste sentido,portanto, ela é enfática  "o saber é sempre obra de uma comunidade humana e, portanto, deve ser entendido no plural". 
Enfim, posso afirmar que ninguém melhor que cada autista pode ensinar o que é o TEA e mesmo suas mães que são as suas melhores alunas, não sabem quanto eles sobre o que vivem. Então, nessa relação de poder mãe-filho com TEA, temos que favorecer que eles sejam os vencedores. Eles livres dos nossos desejos,nos libertaram de certos limites que nos podam a vida.
E é nesse posicionamento que temos que os libertar favorecendo  como a autora conclui seu artigo e aproveito para findar essa reflexão:  diálogo entre formas diferentes do saber não apenas é possível como é desejável; se o que todo saber deseja é, de algum modo, dar sentido ao estranho, isso significa dizer que todo saber é capaz de encontrar a estranheza do outro desconhecido e mediar as diferenças que encontra.

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(Jovchelovitch, S. “Psicologia Social, saber, comunidade e cultura”  Sandra Jovchelovitch London School of Economics and Political Science)

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