Todo o homem um dia foi macho, é, ou será? Que será que isso tem a ver com paternagem e, como ambos opostos, afetam à pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo - TEA?
Prendam suas cabritas (observe, plural) que meu bode (singular e desde de idade de cabrito, já tem título de superioridade) está a solta. Esse ditado popular traz algo da filogenese, ramo científico que estuda a história da evolução humana. Pois, a grosso modo ela, de algum modo, explica que ao homem foi dado atributo de desbravar o mundo externo, enquanto, a mulher ao cuidar, após gerar. Até então, a mulher era divinizada, por ter o dom da vida. Entretanto, como existe quem cuide necessariamente precisa manter a subexistência, assim surgiu a propriedade privada.
Isto,surgiu com a suposta força do caçador, destronado pela sentinela e este pelo guerreiro. A saga da relação de poder, baseado já não mais do dar a vida e agregar através do cuidar, em detrimento do matar e do medo.
No entanto este contexto, ainda não explica porque o macho é o mais violentado e maior vitimado de sua próprio sanguinário modo de viver.
Tentemos, clariar com o apoio de Vygotsky, ele diz que quanto a formação dinâmica da personalidade "todas as funções superiores constituíram-se na filogênese, não biologicamente, mas socialmente (...) Elas são transferidas para a personalidade, relações interiorizadas de ordem social, base da estrutura social da personalidade. Sua composição, gênese, função (maneira de agir) – em uma palavra, sua natureza – são sociais".
Então, voltando ao macho, de personalidade estritamente grotesco, violento em tudo que faz, aquele que nem criança aprendeu a ser, sua formação de si resume-me a procriação, saciedade e sobrevivência de modo geral. Assim, ele se encontra longe de ser ao menos filho, e dificilmente será paternal, no máximo, genitor, ou ainda, em melhor das hipóteses, pai mantenedor. Todavia, seus atos são frutos violentos.Parece-te, um discurso pessimista ou antisocial, mas assim é o macho.
Pior é que poucos são agraciados em sua formação sociocultural e histórica a chegar a ser homem, pois essencialmente, estes já são destruídos ainda quando crianças ou na puberdade por esta sociedade posmoderna.
Entretanto, a boa notícia vem do socioconstrutivismo, reflexões críticas, onde o humano pode reeditar dialeticamente sua personalidade e o mundo mutuamente, porque "Mesmo sendo, na personalidade, transformadas em processos psicológicos –, elas permanecem ‘quasi’-sociais. O individual, o pessoal – não é ‘contra’, mas uma forma superior de sociabilidade(...) atrás das funções psicológicas estão geneticamente as relações das pessoas".Então o psicólogo russo,segue dizendo que "A questão está na personalidade (...) o mais básico consiste em que a pessoa não somente se desenvolve, mas também constrói a si. " Em pleno "construtivismo" dinâmica e continuamente estaremos nos desenvolvendo.
Sobretudo porque, se "A personalidade é o conjunto de relações sociais. As funções psíquicas superiores criam-se no coletivo", onde pode-se recriar de macho a homem, através de se ver criança, filho, por exemplo, no filho TEA, que pode ser eternamente apenas criança, na essência, seja na pureza inocente ou ainda na liberdade infantil. Mas também, apenas um pequeno tirano, destronado você que se nega a paternagem, causando a manutenção do ciclo da violência.
"O pensamento autista diferencia-se do pensamento filosófico não pelas leis do raciocínio, mas pelo papel (...)A diferença entre o doente mental e o saudável e entre diferentes doentes mentais não está tanto em que a) as leis da vida psíquica dos doentes mentais são violadas ou b) têm algo (novas formações) que não têm os saudáveis. Ou melhor, os saudáveis têm o mesmo que têm os doentes: delírios, suspeitas. Idéias fixas, medo, etc. Mas o papel de tudo isso, a hierarquia de todo sistema é diferente. Isto é, outra função, que não aquela que está em nós, destaca-se em primeiro plano e recebe funções reguladoras. Não é a loucura que diferencia o doente mental de nós, mas o fato dele acreditar neste delírio, obedecer, enquanto nós não.Freqüentemente o infantil não desaparece, mas perde seu papel, lugar, significação".
Aqui, abro uma conclusão provocando se o macho diante do TEA ou outra forma atípica de ser e ver em sua condição humana, o macho também acredita na sua loucura de detentor de um suposto poder?
O machismo vitimiza a todos e mais mata o homem em sua condição de vida e ensina à pessoa com TEA a tirânica forma de esufruir da relação desigual desse poder, pois "A essência do homem não é uma abstração, que pertença a um indivíduo específico. Em sua realidade ela é o conjunto de todas as relações sociais”. Estas, aprendidas e reprodutoras de adaptações em busca do bem estar, neste contexto, cobrando o preço das diversas violações contra a mulher e destronando o homem de um trono erguido, do sofrimento, também deste, o que pode explicar porque o homem que mais morre precocemente e de forma quase sempre letais. E algumas pessoas com TEA exacerbam traços machistas.
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(Marx K. e Engels F. Lev S. Vigotski: Manuscrito de 1929*Educação & Sociedade, ano XXI, nº 71, Julho/00
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