sexta-feira, 31 de julho de 2015

TAISA ZANINI
 33 anos, mãe de um lindo menino de 6 anos, diagnosticado com autismo.


      O meu filho sempre foi diferente. Mesmo quando bebê. Não ficava nos lugares conosco, não ficava no colo quieto, nem no bebê conforto, nem na mesa, corria sem parar, gritava, não sentava, não demostrava  prazer pela comida, não sorria para nós, não fitava o olhar, não me reconhecia e parecia surdo.
    Comecei a ficar preocupada. Será que era coisa da minha cabeça? Só eu via que ele não estava agindo como os outros? Levei em alguns médicos e me pediram para ter paciência, alegavam que cada criança se desenvolve de uma maneira. Não consegui. Nunca tive muita paciência. Sou imediatista, inconstante, impaciente. Já havia ouvido falar de médicos que dão pouca ou nenhuma importância para o que as mães observam em seus filhos.
Naquela época eu agi por instinto, hoje eu agiria com conhecimento. Até que notamos, eu e meus pais, que ele fazia coisas extraordinárias. Sabia todas as bandeiras de todos os países do mundo, acessava qualquer site na internet com os dedinhos mais ágeis possíveis, normalmente em inglês ou espanhol, cantava um milhão de músicas com letras compridas inteirinhas, tinha um vocabulário impresionantemente culto...
Mas não dizia mamãe, água, vovó . Meu filho não se comunicava comigo. Não sabia coisa alguma e suas necessidade dele e sentimentos sobre ele, se tinha fome, sede...e me sentia distante. Era como se houvesse uma barreira de vidro entre nós dois e eu não conseguia me aproximar. Isso sim me causava pesar. Sonhei em ser mãe como aquelas que a gente vê nas ruas, onde as crianças ficam grudadas nas mães, não passam a noite fora, choram por colo...  Isso não acontecia.
      Um dia, prestes a completar 2 anos notamos que ele não estava decorando tudo isso. Ele estava lendo. Sim!!! Ele lia tudo! Devorava livros na livraria em minutos, rótulos, bulas de remédio, letras de músicas, notícias em revistas, navegava como um adulto treinando o que queria aprender . Se deixássemos ele passaria o dia inteiro, sem comer, dormir, ir ao banheiro e principalmente sem falar conosco, apenas no computador. Ele queria ler, todos os tutoriais possíveis de jogos para aprender como executar o jogo.
    Me lembro claramente de um dia em particular, onde eu ouvi a palavra autismo alto pela primeira vez. Meu pai tinha vindo para natal e estava com ele sentado no colo, no s olhamos e ele falou: "_Filha, você sabe né?! O nosso bebê pode ser autista." Me lembro que eu parei e pensei que precisava ler sobre isso para responder com certeza. Mas respondi: "_Ok, eu sei pai." Não senti nada. Não doeu nada. Eu não estava em choque. Eu apenas sabia.  
      Começamos a corrida por todos os profissionais possíveis. E decidimos começar todas as terapias inerentes à um tratamento para autista independente do diagnóstico, afinal, eu já sabia. E antes tratar e não precisar, do que ter perdido um tempo precioso. Sábia decisão a minha.  
      Começamos aos 2 anos acompanhamento com fonoaudiólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, equoterapia (me lembro que meu irmão, padrinho do Jorginho, trouxe uma égua aqui para natal para ele), psicólogos e fizemos, eu, meu irmão e meus pais TODOS os cursos que haviam na época sobre autismo para aprendermos tudo o que podíamos. Modificamos nossa rotina, mudei minhas prioridades e minha casa. 
      Muita gente me procura para conversar, principalmente no período de descoberta do diagnóstico. Tenho um orgulho enorme em dizer que ajudei algumas pessoas, por incrível que pareça NUNCA me ocorreu o sentimento de tristeza. Um medinho assim do novo pode ser. Ele nasceu diferente, sim! É daí?! Também não sou igual a ninguém. Para mim e para minha família o autismo não veio pesado. Chegou leve, como uma brisa. Uniu. Provocou mais amor e mais tolerância. Como eu poderia me entristecer?! 
      Estou longe de ser a mulher mais equilibrada do mundo, não é isso! Mas não sei explicar porque essa notícia não causou transtornos. Me tornei mais forte, equilibrada, mais tranquila, mais paciente, mais humilde...O autismo abriu as porta de um mundo muito mais humano. Eu me transformei e vi a transformação de muita gente. 
      Tenho lembranças muito claras de momentos importantes. No dia que eu recebi o diagnóstico pela primeira vez, meu pai e minha mãe foram com ele no meu consultório e me deram o melhor apoio do mundo. Minha mãe chorou. Não a culpo. Alguém precisava chorar. E meu pai disse: "_Filha, fique tranquila. Nós estamos aqui para ajudar você. Não ficará sozinha. Se eu tiver que vender a roupa do corpo eu vendo, mas ele terá todo o tratamento que for preciso." Depois disso meus pais vieram morar em Natal. Obrigada família. Nunca me senti sozinha. pai, você, meu irmão e minha mãe foram minhas pernas. Felizmente não foi preciso vender nada. Graças a Deus.  
      Hoje, o meu bebê já está um rapaz independe e muito maduro. Quando eu digo maduro, falo que ele tem maturidade emocional para compreender as suas próprias limitações. Ele sabe exatamente o que pode desencadear um estresse para ele. E deixa  isso sempre muito claro pra nós. Quer um exemplo bem claro da maturidade desse menininho tão jovem? Ele sempre diz. "Não me apresse, minha cabeça fica confusa e não consigo realizar as tarefas." OK!!!! A gente entende e respeita. Hoje temos uma vida social ativa e relaxada (festinhas, mas não muitas e nem com músicas muito altas e muito menos com muitos meninos jogando futebol, afinal as regras do futebol são confusas), ele hoje tem uma comunicação espetacular, uma inteligência que me deixa babando e um humor incrível! Esse ano reduzimos todas as terapias e como a socialização dele está muito bem, investimos no que ele gosta de verdade. Leitura e línguas (ah, e os eletrônicos! Ele pira nesses games on line, conversa com muitas crianças em outras línguas). Quer saber mais? Agora ele me pede o colo. Se vai dormir na casa da vovó, no dia seguinte me liga avisando que vai voltar em breve, que sente saudades. Eu amo ter isso! É bem verdade que nem tudo são flores perfumadas.
Ainda existe o diagnóstico e com isso algumas outras tantas dificuldades relacionadas ao autismo que lidamos diariamente. Seguir regras é uma tortura para ele. Estabelece organização nas tarefas múltiplas é um desastre. Os barulhos, mudança de rotina e situações de estresse são capazes de desencadear crises rápidas. Essas coisas precisam ser trabalhadas diariamente. E a alimentação ainda tira o sono da mamãe aqui. Mas isso a gente tira de letra. 
Quando me pedem para falar da história dele eu fico logo animada!  Porque foi de longe um caminho fácil. Foi difícil de verdade! Muita gente hoje chega para mim e diz assim:  Taisa, tem certeza que essa criança é autista? ; Taisa, seu filho se superou mesmo? Ele já não era "leve"? Eu no começo me incomodava com isso, hoje eu conto a história dele. Me disseram para não esperar muito dele. O meu filho só foi falar comigo quase aos quatro anos. Meu filho é um caso de criança autista diagnosticada precocemente e com tratamento precoce. Tendo bons resultados. Fiz tudo por ele e para ele sem nunca deixar de ser eu. Deixei de sair, cuidei do meu filho sozinha, fui mãe e pai, (o que parecia uma responsabilidade pesada demais pra uma mulher só, e de fato foi. Eu era sozinha nessa caminhada. Voltei a sair, decidi que o mundo teria que se adaptar a ele, e não ele ao mundo, briguei com meio mundo pelos direitos dele, quase enlouqueci com a escola, na recepção do parquinho, no estacionamento, botei o meu dedo na cara de muita gente que chamou meu filho de mal  educado quando tinha crises, até que venci pelo cansaço. Eu venci. Eu perdi o medo. E no final das contas eu tenho um orgulho imenso dele. Porque ele é lindo, inteligente, perspicaz, E sobre mim?
Eu tenho muita sorte!









quarta-feira, 29 de julho de 2015

Temos que deixar de ensinar.


A educação tem sido usada pelo mercado de trabalho, apesar de pensadores mais libertários como Paulo Freire ainda há não perceba que o aluno tem muito que ensinar; e em Vygotsky não percebem que a interação social é libertadora da criatividade. A educação difere do ensino mas ambas preparam apenas para parte da vida, talvez à escravidão hoje chamada, trabalho.
Nele o nosso cérebro é levado a inverdades, que cedo ou tarde ele se rebela e cobra-nos de mentiras internalizadas e agimos para corrigir o passado ou acelerar ao futuro.
Assim, muitos vivem presos ao passado depressivamente acham ter perdido tempo. Mas para o eterno alienado o passado e o futuro é tragado por outro; por outro lado, outros vivem ansiosos com saudades do futuro, por não ter apreendido a adiar o prazer. Ambos vivem escravos, cegos no presente, esquecem que carregam em si todas as virtudes já vividas e sentem-se fracos, assim o destino escorregam por suas mãos no aqui-agora.
Entretanto, existem quem no presente, conscientes de suas precárias virtudes a serem desenvolvidas e destas nascem outras demandas; vivem um dia novo a cada vez; sabem que nada somos sozinhos e chegam à única verdade: Só existimos em companhia e com o outro.
Então, ao se perceber em desenvolvimento,
 usuários de substâncias psicoativas, enquanto não assumem as suas fraquezas continuam padecendo.
vemo-nos em perene processo de desenvolvimento, assim abertos aos filhos, que apenas geramos, pois não são nossos, eles se pertencem, por mais dependentes que nos pareçam. Sobretudo, aqueles se comportam em peculiar expressão atípica. Precisamos dar-lhes autonomia o quanto podermos, pois não somos eternos para tutelá-los. A vida é implacável com os dependentes, vejam os

A dor não é do filho, ao não ser visto como útil ao próximo, mas o filho autista é por excelência mensageira do amor praticado por apenas quem sabe amar a incompletude da condição humana.
É a visão erronia internalizada, a do utilitarismo subliminar da educação e do ensino que não nos prepara para a vida, muito menos para nos amar e sim cegar ao poder advindo do dinheiro a partir da utilidade a serviço do trabalho.

Deixemos de viver para amarmos as virtudes inatas que enriquece como espécie racional harmonizada. Isso com a inteligência emocional do perceber, conhecer e viver nossos limites e destes evoluir.

terça-feira, 28 de julho de 2015

JOÃO PAULO LINHARES
36 anos, pai de autista de 4 anos de idade.

Antes do diagnóstico, nosso filho não era uma criança que se comunicava normalmente, havia um atraso na linguagem, com um comportamento intolerante, muito sensível ao “não”, observamos que não era comum, até então, sua professorinha do nível 1 (com idade inferior ou igual aos 2 aninhos) havia nos avisado que ele não se sentava na rodinha com os amiguinhos por vontade própria.
Decidimos, então, procurar um especialista, pois sua pediatra não acreditava em autismo até o momento. Com o neuropediatra foi diagnosticado aos dois anos e meio, descobrimos o que é ter um filho autista.
Esse diagnóstico significou muito, pois acreditamos num bom prognóstico, uma vez que, foi feito de forma precoce. Claro que naquele instante não sabíamos o que fazer. Comunicamos às pessoas mais próximas para que pudéssemos contar com sua ajuda e compreensão e até como forma de desabafo para colocarmos fora uma angústia que nos tomou conta a partir daquele dia.
Assim como todo pai e toda mãe, na hora em que recebemos a notícia, ficamos sem chão, pois ninguém quer ter um filho fora do "típico". Graças a Deus, nosso filho não passou por nenhum tipo de constrangimento, pois sempre que chegamos a algum local “estranho”, comunicamos que ele é autista e até hoje ele foi muito bem recebido. Apenas temos o cuidado de não o levar para locais que possa fazê-lo se sentir mal, como locais fechados, de muito barulho, dizemos que normalmente, ele é quem escolhe.
Entramos em contato com diversas pessoas que tinham passado pela experiência, ficamos preocupados no que fazer, a quem deveríamos levar. A preocupação é tamanha que não temos segurança em ninguém, e nem em nossos próprios atos.
O medo de errar é e sempre foram grande, alguns passaram no que se refere a sua idade, seu desenvolvimento, podemos dizer que através de estudo, pesquisas veem como luz no fim do túnel. Encontramos sempre pessoas dispostas a ajudar. Hoje em dia os medos são inerentes ao seu futuro, os quais acredito que são comuns a nós pais.
 Contudo, acho que a maior aprendizagem foi saber que, se tem algo que estamos fazendo certo, é o de AMAR. Nosso filho tem nos ensinado que amar não é só dizer “te amo”, e sim ser muito mais intenso e profundo, pois ele nos mostra que confiar em sua vida e sua alegria sem nenhuma condição de falsidade, ou tristeza sem fingimento, é muito verdadeiro e em retribuição recebemos através de seu olhar, seus gestos e atitudes toda sua vitalidade e vida.
 Isso garante o melhor futuro possível. Sabemos que pelo amor faremos o que for possível, ou o que estiver em nosso alcance. Esse alívio na consciência nós carregamos, a de ter um filho atípico sadio e de uma beleza perfeita.
Eu, na verdade, não faço ideia de como é o comportamento de outros pais com seus filhos autistas, sei que meu amor por meu filho me move a fazer coisas que eu não pensei que pudesse. Até mudar o rumo de minha vida se preciso for, ele me dá força, pois já fez isso, parece que para isso ele nasceu. Sou um farmacêutico bioquímico que queria mudar de profissão e não tinha garra, ou motivação. Hoje ele me deu o que precisava, estímulo de viver e de poder amar mais.
No meu quinto ano de Engenharia, vejo que tudo é possível para fazê-lo feliz e me fazer completo como pai. Às vezes me pego respirando e lembrando que respiro por ele e para ele, com muito desejo de mudar um quadro de preconceitos que muitos por aí passam.

Hoje posso agradecer a Deus pelo presente que me foi dado. Na verdade, tive dois filhos onde um deles é especial e o outro quando presente ajuda a dar o que seu irmão precisa, ou seja, amor, carinho, atenção e cuidados.

Lidando com o preconceito vivido pelo autista.


Sigo com reflexões junto aos pais e cuidadores. Agora, parafraseio Norberto Bobbio, autor que diz não ser salutar ter preconceito de ter preconceito. 
Preconceito e discriminação são distintos, pois esta é perniciosa à sociedade. O preconceito, por sua vez, tem algo de útil, serve para diferenciar uma pessoa das demais e também é anterior a agressão. Portanto, podemos aprender com preconceito em evitar que ele vire tolerância, que é face da indiferença, omissão.
Esta é uma das faces da violência, violento é não perceber o outro em seu total biopsicossocial e espiritual.  Enquanto amar, é  aceitar o processo de desenvolvimento qualitativo e  dele nasce o livre arbítrio, que por sua vez, é a base do nosso destino.
Não se rendam ao determinismo desta sociedade onde incomum e atípico são rotulados de doentes, patológicos e assim segregados.
Quando nos conhecemos, aceitamos nossa humilde condição humana. Assim temos maiores probabilidades de desenvolvimento positivo e de não ver negativismo nos preconceitos, pois estes revelam desconhecimentos de causa; como também nos dá a possibilidade de não sofrer ante o agressor, pois quem agride precisa encontrar paz. Diante destes, então, temos a chance de promover a cultura de paz.
E, então, não absolva as coisas destruidoras que vem destes. Por outro lado, ame como prática da aceitação da condição humana que nos é permitida. Não apenas tolerar, porque, ao suportar nega-se o sofrer diante do diferente e isso é porta para futura violação, pense em um animal acuado, pronto para atacar! Tolerar é manter um ciclo vicioso, esse comportamento nega o diálogo, portanto, não agrega mais atores a nossa causa, mantém "neutros" indiferentes, eis o desamor.
Junto às diferentes formas de interagir de pessoas atípicas, por exemplo, aprende-se a amar a beleza humana que está na diversidade, pois somos uma diversidade de direitos iguais. Isso fica evidente quando atípicos nos ensinam a variedade de modos de viver intensamente, em suas lutas diárias. Ao aceitá-los como são e, não como gostaríamos que fossem, evoluímos a seres biopsicossociais e espirituais.
Pensemos na estereotipia, que pode doar prazer e alívio ao filho, que queremos pará-la sem ao menos nos perguntar se é prazeroso, porque pensamos no preconceito que ele pode sofrer. 
Mas, depois de nos permitir escutar/ entender/ amar o filho, dentro de nós, pode-se viver a homeostase (equilíbrio) entre o desejo do filho, expresso na estereotipia e a nossa liberdade dos preconceitos, deixando fluir a autonomia destes revolucionaremos o mundo a partir de nós.
E, portanto, entenderemos porque fomos presenteados com o privilégio do convívio com seres evoluídos como um atípico, pois os fracos vivem e só privilegiados amam, por estarem abertos ao mistério do novo de cada diversidade que é um autista.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

CEIÇA GONÇALVES
31 anos,Genitora de filho autista, 6 anos de idade.


Minha enriquecedora vivência com o autismo, assim como todas as mães de autistas, tem sido marcada por lutas e vitórias.
Lutas diárias onde a esperança é o que prevalece sempre, pois mesmo nos dias muito difíceis o choro é inevitável, mas secamos as lágrimas, que também são estímulos para seguirmos em frente, porque essa foi a missão que recebemos.
Sou mãe de um lindo menino de 6 anos, meu primeiro filho, desejado e amado por toda família.
Uma criança que nasceu dentro das "normalidades", mas que próximo aos 2 anos de idade, notou-se uma ausência na fala e que a princípio parecia ser apenas isso: atraso de linguagem.
Então iniciamos a intervenção com fonoaudiólogo aos 2 ano e meio, e a partir daí começamos através da visão de mãe, mas de repente na investigação percebemos que não era apenas a ausência de fala que afetava nossa criança, pois o comportamento era incomum, atípica, por exemplo, na escola se isolava, chorava ou sorria sem motivo aparente.
E junto a tudo isso, existia o outro lado da história que mostrava que ele tinha algumas habilidades, apesar de não falar, como se esperava pra sua idade, ele vocalizava todas as letras do alfabeto e mostrava grande interesse por números, letras e rótulos de embalagens, ele adora todos os tipos e isso é até hoje.
Hoje aos 6 anos enfrentamos outros desafios, mas com muita esperança de vencer todos, ainda ficamos perdidos em alguns momentos, porém aquele desespero do início se transformou em força. 




Genitores, lidando com o seu auto preconceito vivida pelo autista.(Parte II)

Na interação social com um filho atípico, o comportamento dele pode ser reflexo de sua necessidade de evitar, expressar e descarregar a dor e o sofrimento é, portanto, fonte de alívio. Isso tudo nos leva a perceber, em suma, que precisamos os conhecer e sermos humildes quando não entendemos tal expressão. Essa postura de abertura a reaprender constantemente é indispensável para podermos doar-nos a alguém sem invadir sua subjetividade, sua psiquê, sociabilidade e espiritualidade. Isso inclui ouvir sons não dissociados de afetos e verdades que fluem do coração, da alma e do espírito dos filhos. Assim, portanto, podemos os entender.Ninguém ama tanto que não precise amar mais e aprender sobre como amar, nesse processo se faz necessário um afastamento empático que garanta ao filho espaço para respirar de corpo e alma, para ser apenas ele próprio. Deixar o outro ser até onde consegue estar, descobrir seus limites e além deles evoluir.Assim, no caso do filho com Transtorno de Espectro Autista- TEA, nós com ele o evoluir é mútuo, quando o deixamos nos guiar através de suas mãos e caminhando com os seus pés, ditando o ritmo durante seu processo evolutivo. Assim sentem-se mais fortalecidos, para nos mostrar suas virtudes que não vemos devido ao nosso próprio medo da diversidade, que cada TEA representa. E ao vivenciarmos, com ele seus ambientes e suas falas inaudíveis carregadas de afetos, de amor e adaptação, pois, eles expressam sentimentos de modo atípico e não do modo único como geralmente se codificou entre nós. Acompanhando-os, eles ficaram mais adaptados. Pois eles se comunicam como seus desejos os guiam.
Existe uma evolução ao lidar com o desejo alheio, nos pesa limitar o nosso, e isso nos coloca diante de nossas mais íntimas fraquezas. Com isso, faz-nos para além de genitores, sermos pais.Essa evolução nos remetem aos nossos dias de filhos, nossa infância, as contradições da puberdade, das culpas advindas dos parricídios de cada dia. É necessário voltar às essas demandas, e se conhecer a partir de nos mesmo e, necessariamente do que negamos, e as jogamos nas masmorras do inconsciente.Aos pais que estão cambaleantes aqui abro uma conclusão que na realidade precisam verem-se necessitados e permitirem-se cuidar.O melhor cuidador é aquele que sabe que necessita de ajuda no ato de amar, e se inicia amando quando se escuta, ver, sente-se primeiro e não fugindo de si. Caso contrário, continuaremos ensinando aos nossos filhos nossos medos e covardias.
Bem, entretanto, não quero que saiam pensando que culpo os pais pelos supostos sofrimentos dos filhos, mas saibam que seus filhos são mais resilientes que vocês especulam, não tenham medo deles descobrirem seus limites, basta você não ensinar os seus a eles. Eles são atados a vocês, mas são autônomos, não sejamos incongruentes a pensar contrário a isso. Conheça a verdade e ela vos libertará, algum cristão diria isso. Eu digo, sejam vocês mesmos e obterão paz, dele nascerá o verbo por excelência, o amor e estes libertarão a todos que o circunda. 

domingo, 26 de julho de 2015

Genitores, lidando com o seu auto preconceito vivida pelo autista.(Parte I)

Para conseguir um chocolate uma criança estende a mão, outra esperneia e outra pode agir agressivamente. 
O porquê de cada um desses comportamentos?
 Que levou a tal desejo? Será que ela pode adiar tal prazer?
 E, não menos importante, como  podemos satisfazer o filho, ou é necessário  o frustrar? 
Como nós nos sentíamos diante da nossa própria frustração?
Pergunto-me por que quem se esquece de ter sido filho poderá vir a ser adulto, pai ou mãe? E, se for genitor poderá ter sérias dificuldades no papel de preparar o filho para a vida. E assim, levar o filho com seu desejo a sérios vícios  na sociedade.
Desejo é algo difícil de se indagar em uma sociedade de quem não se sabe o que se é, como esta que citei. E o que dizer de estar diante de um filho de expressão comportamental atípica ou incomum, como aquele que o senso comum chama de autista. Em um filho autista temos uma maravilhosa oportunidade de ver alguém que pouco se viciou, como quem quer levar vantagens em tudo como é comum entre nós. O atípico devido a sua vital forma de interagir é, suponho, menos alienado às nossas regras  que quase sempre limitam a liberdade.
Assim, genitores destes filhos, vocês têm oportunidades de buscar entender não só os seus filhos, como também, serem levados aos seus mundos. Possivelmente menos compromissados com nossos dilemas, desamores e amarguras. E sim cheios do belo da simplicidade. Eis uma escadaria para se evoluir a patente de pais e mães.
Diante das vivências dos seus filhos,  temos que talvez os entender pelo prisma não meramente do espectro (Transtorno do Espectro Autista), mas sobretudo, a partir  dos comportamentos que são formas de expressão afetiva. Comunicação em todos os sentidos concretos, carecendo que as pessoas significativas ao filho apreendam, codifiquem e façam surgir prazer para toda a família.












ROCHELE ELIAS

45 anos, mãe de Transtorno do Espectro Autista de 9 anos, diagnosticado  aos 2 anos.

Meu filho estuda, hoje pratica natação e todo tipo de lazer: cinema, teatro, shows casamentos e aniversários.
Mas antes do diagnóstico, que foi dado depois dos dois anos de idade, ele tinha um desenvolvimento típico sem qualquer percepção no comportamento que o distinguisse dos demais bebês.
Após perceber a regressão da fala e alguns comportamentos, chamados estereotipias, procurei especialistas e ele foi diagnosticado a cerca de dois anos e meio.
Desde então fazemos terapia com psicólogo, terapia ocupacional com integração sensorial, fonoaudiologia na área linguagem, psicoterapia, esportes.
Trabalhamos muito o comportamento social comportamento social no supermercado, onde ele sabe o que deve colocar no carro, vai para o caixa; no restaurante la carte/self service sabe que tem que pedir esperar alimentar-se e pagar, enfim, sabe enfrentar filas como qualquer pessoa.
Nós, como ativistas da causa de garantias de direitos, tentamos esclarecer, orientar e desmistificar preconceitos de pessoas desconhecedoras em diversos ambientes e situações.
 Mostramos a capacidade dele quanto a aprendizagem e capacidade de desenvolver atividades sociais e em situação constrangedora perguntamos se aceita um panfleto que divulga informações básicas sobre o autismo.
Devemos estar atentos para esclarecer, em momentos de preconceito ou reclamação, devido a comportamento inadequado (atípico) dos nossos filhos e ao não quererem aceitar os direitos de pessoas com deficiências, entrego panfleto que trata justamente dessa reflexão.
Lutamos pelos direitos das crianças! E com necessidade especial, mas primeiro ele é uma criança! Batalhamos pelo acesso à educação quando é negado.
Há muitas dificuldades que rapidamente se dissipam no momento que percebemos quanto ele evolui e tem capacidade para aprender.
E, especialmente nós ao aprendermos com a diversidade que nossos filhos representam!













VIVIANA MONTEIRO
 41 anos, mãe de autista de 10 anos, sem diagnóstico fechado a 8 anos.


Meu filho começou minimizar seu contato com os coleguinhas desde de um ano e meio de idade e foi parando de falar, disseram-me que eu sou super protetora, mesmo assim procurei especialistas e pediram-me para esperar outros sinais comportamentais. Mas, ainda não foi fechado um diagnóstico.

Meu filho antes de autista é uma criança e é muito feliz. Quando se comporta com expressões estereotipadas em alguns lugares nós conseguimos combinar com ele depois de sensibilizá-lo até ele aprender a se comportar, mas temos que estar vigilantes,  mesmo assim, não saio dos lugares, acho que indo sempre, ele aprende a se comportar.

É uma oportunidade mútua de aprendizado e de amadurecimento.


Certa vez em um parque um pai quis que eu tirasse meu filho da brincadeira porque ele agia diferente das demais crianças, ai eu disse se você quiser tirar o seu tire, pois o meu não vou tirar por ele ser diferente e se alegrar rindo com tudo.
ARACELLI DA COSTA
37 anos, mãe de autista de 6 anos, diagnosticado a cerca de 4 anos.

Dois anos sem a sombra, o espectro o anjo meu.
Agora, anjo azul em dobro do tempo ele cresceu.
Nem espectro, doença ou dor escondeu o encanto ele verteu.

Transtorno mesmo que se mostrou, ele é contínua fonte de alegria no mundo seu.
E das rodas em círculos, abanos de mãos se deu.

Os risos, com os sons repetidos se dividiu.
O brinquedo ele não só mordeu.
O olhar se perdeu
Ou foi o meu?

Porque, Deus meu, eu quero tirar ele do mundo seu?
Se nada dessa terra ele perdeu
Seu medo é dele, ou é meu?

Deus, graças ti dou, pelo filho que o Senhor me Deu!



sábado, 25 de julho de 2015

PROVOCAÇÕES SOBRE O AUTISMO

Neste mundo pós moderno, as contradições parecem cegar as possibilidades inclusivas,  onde a maioria submerge em um individualismo desesperançoso e solitário, enquanto as minorias de pouco acesso aos direitos humanos ficam aquém das demandas  altruístas e empáticas. 
Não sei se há falta de sentimentos semeados nesta sociedade, ou falta sentir o outro? Se falta, como brotará amor e harmonia, frutos do bem estar biopsicossocial e espiritual?
Estes bens quando regados nascem  germes de uma sociedade evolutiva e não depressiva. Entretanto, muitos buscam se isolar, como  assemelhando-se aos autistas, pudessem, assim se proteger de seus medos.
Porém, o autismo pode ser para os genitores  motivos de felicitações, pois se o autista interage com baixa relação afetiva, da-nos oportunidade de humildemente entender o porque eles se comportam atipicamente e, assim, podemos compreender a sua diversidade e condição humana.
Refiro-me aqui, apenas, aos pais destas lindas expressões de vida biopsicossocial e espirituais, que envolvem ou confundem seu sofrer com um suposto padecer dos filhos. Todavia, sabe-se da complexa  dinâmica em lidar com eles e, sobretudo, porque as mudanças subjetivas destes, são pouco observadas e muito menos vividas pelos seus genitores.
Não seria leviano indicar que, aos pais e cuidadores, se faz necessário a auto aceitação, para não negar o direito do filho de ser ele próprio, alegando a suposta escassez de tempo para viver  as fases de desenvolvimento deste; restando a imposição aos professores em o educar;  e a solicitação dos profissionais para o curar, adestrar o  comportamento e  extinguir as estereotípicas, sem ao menos indagar se estas expressões são ou não estruturantes para o filho.
Mas em suma, os autistas quase sempre pouco precisam de nós, eles nos acusam que são os seus genitores que precisam aprender a serem pais e mães, mas como se-lo, se eles nem filhos foram?
Cabe, novamente, salientar que me refiro apenas aqueles que já sofrem mais que jubilam, por  ter um filho nesta condição humana, que é ser abençoado como autista.
Eles querem apenas que traduzamos e realizemos seus desejos e percepções e não que os desejos dos adultos os invadam e os empurrem para o interior deles  mesmos.

A MORTE PEDE CARONA: ADULTOCENTRISMO E INFANTICÍDIO, NÃO SÓ SOFRIDOS PELAS PESSOAS NO TRAÇO AUTÍSTICO

Repensando sobre tudo que contribuem para a despersonificação de cada ser, penso que a partir da impossibilidade de alguns entre os ad...