terça-feira, 28 de julho de 2015

JOÃO PAULO LINHARES
36 anos, pai de autista de 4 anos de idade.

Antes do diagnóstico, nosso filho não era uma criança que se comunicava normalmente, havia um atraso na linguagem, com um comportamento intolerante, muito sensível ao “não”, observamos que não era comum, até então, sua professorinha do nível 1 (com idade inferior ou igual aos 2 aninhos) havia nos avisado que ele não se sentava na rodinha com os amiguinhos por vontade própria.
Decidimos, então, procurar um especialista, pois sua pediatra não acreditava em autismo até o momento. Com o neuropediatra foi diagnosticado aos dois anos e meio, descobrimos o que é ter um filho autista.
Esse diagnóstico significou muito, pois acreditamos num bom prognóstico, uma vez que, foi feito de forma precoce. Claro que naquele instante não sabíamos o que fazer. Comunicamos às pessoas mais próximas para que pudéssemos contar com sua ajuda e compreensão e até como forma de desabafo para colocarmos fora uma angústia que nos tomou conta a partir daquele dia.
Assim como todo pai e toda mãe, na hora em que recebemos a notícia, ficamos sem chão, pois ninguém quer ter um filho fora do "típico". Graças a Deus, nosso filho não passou por nenhum tipo de constrangimento, pois sempre que chegamos a algum local “estranho”, comunicamos que ele é autista e até hoje ele foi muito bem recebido. Apenas temos o cuidado de não o levar para locais que possa fazê-lo se sentir mal, como locais fechados, de muito barulho, dizemos que normalmente, ele é quem escolhe.
Entramos em contato com diversas pessoas que tinham passado pela experiência, ficamos preocupados no que fazer, a quem deveríamos levar. A preocupação é tamanha que não temos segurança em ninguém, e nem em nossos próprios atos.
O medo de errar é e sempre foram grande, alguns passaram no que se refere a sua idade, seu desenvolvimento, podemos dizer que através de estudo, pesquisas veem como luz no fim do túnel. Encontramos sempre pessoas dispostas a ajudar. Hoje em dia os medos são inerentes ao seu futuro, os quais acredito que são comuns a nós pais.
 Contudo, acho que a maior aprendizagem foi saber que, se tem algo que estamos fazendo certo, é o de AMAR. Nosso filho tem nos ensinado que amar não é só dizer “te amo”, e sim ser muito mais intenso e profundo, pois ele nos mostra que confiar em sua vida e sua alegria sem nenhuma condição de falsidade, ou tristeza sem fingimento, é muito verdadeiro e em retribuição recebemos através de seu olhar, seus gestos e atitudes toda sua vitalidade e vida.
 Isso garante o melhor futuro possível. Sabemos que pelo amor faremos o que for possível, ou o que estiver em nosso alcance. Esse alívio na consciência nós carregamos, a de ter um filho atípico sadio e de uma beleza perfeita.
Eu, na verdade, não faço ideia de como é o comportamento de outros pais com seus filhos autistas, sei que meu amor por meu filho me move a fazer coisas que eu não pensei que pudesse. Até mudar o rumo de minha vida se preciso for, ele me dá força, pois já fez isso, parece que para isso ele nasceu. Sou um farmacêutico bioquímico que queria mudar de profissão e não tinha garra, ou motivação. Hoje ele me deu o que precisava, estímulo de viver e de poder amar mais.
No meu quinto ano de Engenharia, vejo que tudo é possível para fazê-lo feliz e me fazer completo como pai. Às vezes me pego respirando e lembrando que respiro por ele e para ele, com muito desejo de mudar um quadro de preconceitos que muitos por aí passam.

Hoje posso agradecer a Deus pelo presente que me foi dado. Na verdade, tive dois filhos onde um deles é especial e o outro quando presente ajuda a dar o que seu irmão precisa, ou seja, amor, carinho, atenção e cuidados.

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